domingo, 11 de novembro de 2012

2° Guerra Mundial - O Brasil na Guerra - O Exército parte 3

Olá Pessoal,

Na terceira parte sobre o desempenho do Brasil na SGM, vamos ver o treinamento dado aos praças e oficiais da FEB no teatro de operações italiano.

Como era de se esperar, nada foi fácil a começar pelo material básico de combate, suprimentos etc, que não tinham sido providenciados bem como o treinamento adequado.

Mas esse fato não esmoreceu o moral da tropa da FEB que aos poucos conseguiram tudo o que precisavam e mesmo com a desconfiança inicial por parte dos oficiais americanos sobre o desempenho da tropa brasileira na guerra eles se mostraram aptos para a batalha após passarem com louvor pelo treinamento dado pelo V Exército Americano comandando pelo General Mark Clark.

Agora o resto vocês podem conferir no post abaixo.

Uma Boa Leitura,
Bruno Mingrone

Adestramento no Teatro de Operações


Não foram poucas as dificuldades que, de começo, teve que vencer a primeira tropa brasileira (1º Escalão de Embarque) desembarcada na Itália. Os chefes americanos, de menor graduação, estranhavam, a princípio, a presença de nossos soldados em território italiano e não escondiam a dúvida sobre as vantagens do emprego da tropa brasileira na luta, pois, do Brasil, apenas tinham notícia das bases aéreas de Belém e Natal, que, aliás, de brasileiras só possuíam o chão. Muito pouco se avançou no adestramento militar do 1º Escalão de Embarque durante o seu primeiro mês de permanência no Teatro de Operações na Itália.

O obstáculo principal a esse desenvolvimento foi, como no Brasil, a falta material de instrução. A ansiedade geral da tropa brasileira de entrar em ação de combate induziu o General Mascarenhas de Moraes, desde os primeiros dias de nossa estada em Bagnoli, perto de Nápoles, a interessar-se vivamente pelo recebimento do material de guerra e pela transferência do 1º Escalão de Embarque para uma área de treinamento, o que tornaria possível a melhoria do nosso padrão de adestramento. Como decorrência das repetidas entrevistas que manteve com as autoridades militares americanas, objetivando a concretização daqueles propósitos, o nosso chefe divisionário conseguiu, no dia 26 de julho de 1944, a autorização deslocar o 1º Escalão de Embarque para a região de Tarquinia. Ainda mais, em Tarquinia o contingente deveria receber armamento e equipamento de toda a natureza. Na noite de 5 de agosto de 1944 estava o 1º Escalão de Embarque concentrado em Tarquinia, onde, dentro de uma quinzena, recebia grande cópia de variado e complexo material de guerra. Naquela mesma data ficou a nossa tropa subordinada ao V Exército Ameriicano, Grande Unidade que vinha tendo brilhante atuação militar, desde a Campanha da África .

 
Acampamento da FEB na Itália (Acervo da Associação dos ex-combatentes da FEB)
 

De 18 a 20 de agosto o 1º Escalão de Embarque deslocou-se de Tarquinia para Vada, que distava, nessa ocasião, 25 quilômetros da frente de batalha do Arno. Instalara-se o 1º Escalão de Embarque no Acampamento de Vada, com o objetivo de ultimar o seu adestramento para o combate. Disfarçava-se sob esplêndido parreiral o nosso acampamento. Mas, os cuidados que devíamos manter, dadas as vizinhanças da zona de combate, não eram poucos. O funcionamento de nossos Serviços, com a nova situação que exigia disciplina de luzes e de circulação, veio a ser encarado com espírito mais objetivo. As nossas necessidades passaram a ser satisfatoriamente atendidas, principalmente pela adoção do sistema das visitas diárias dos oficiais de ligação e chefes de serviço americanos. A permanência dos brasileiros na área de Vada desde os primeiros dias, caracterizou-se por uma intensificação de nosso adestramento. Assim, iniciamos a 2 de agosto o "período de instrução final", com a duração de três semanas. A instrução, já com a dotação completa de material progrediu brilhantemente. Os últimos dias do "período de instrução final" foram vividos dentro do grande exercício de 36 horas, e iniciado a 10 de setembro, o qual constituiu a recordação emocionante do acampamento de Vada. Tal exercício contou com a desvelada assistência do comandante do V Exército, general Mark Clark. Esse "exercício-teste", no qual tomaram parte mais de quatro mil expedicionários, constituiu quase um verdadeiro combate. Quando concluído, ouviram-se os árbitros. Manifestaram eles o parecer de que os magníficos resultados, evidenciados nesse exercício, atestavam excelente grau de adestramento para o combate. "In continenti" o general Mark Clark felicitou o general Zenóbio da Costa e declarou o 1º Escalão de Embarque apto para entrar em linha. Essa tropa, em conseqüência, iria atuar na f rente geral de Pisa, integrando as forças do brilhante e operoso general Crittenberger, comandante do IV Corpo de Exército. Indescritível a exultação patriótica que então empolgou o acampamento de Vada.

Estava o Destacamento FEB atuando no vale do Serchio, quando o grosso da Divisão Brasileira (2º e 3º Escalões de Embarque), avaliado em 10.000 homens, alcançava a Área de Treinamento situada na Quinta Real de San Rossore. Aí, nessa bela quinta real, onde os pinheiros, álamos e ciprestes, plantados na planura interminável, configuravam o traçado de numerosas alamedas, os elementos componentes dos 2º e 3º Escalões de Embarque, em data de 11 de outubro de 1944, encontraram um acampamento militar dotado de todos os recursos higiênicos e dispostos em ordem impecável.
 
             Filme Americano do V Exército sobre o treinamento da FEB

Logo depois de estacionados, as 2º e 3º Escalões deveriam receber o material necessário a um treinamento tático intensivo. O equipamento militar do grosso da Divisão não se processou no quadro das previsões de tempo do comandante do V Exército. Os 2º e 3º Escalões de Embarque levaram trinta e cinco dias para receber todo o suprimento bélico e os trabalhos de distribuição aos Órgãos de Serviço brasileiros, a cargo da PBS, só foram dados por concluídos no dia 22 de novembro. Em meio a essa balbúrdia e esse ambiente de atropelo, a instrução se desenvolveu com imperfeições, cujas repercussões se fizeram sentir nos embates iniciais de algumas unidades do grosso da 1ª DIE. Além das providências de ordem material para um bom rendimento da instrução, particularmente tática, o General Mascarenhas de Moraes considerou necessário e oportuno o restabelecimento dos laços orgânicos da Divisão, uma vez que havia já chegado ao teatro de guerra o restante de seu efetivo. Para isso o chefe brasileiro assumiu a direção das operações da frente de combate a 1º de novembro de 1944, designando, ao mesmo tempo, os Generais Zenóbio e Cordeiro de Faria para organizarem e reverem os "testes" de instrução da infantaria e da artilharia respectivamente, o que veio a realizar-se na ampla área de treinamento de Filettole para a tropa recém-chegada. Por motivos fora da alçada do General Clark e dos chefes militares brasileiros, foram as unidades dos 2º e 3º Escalões de Embarque muito prejudicadas na sua instrução, depois da chegada ao teatro da guerra.

Os 4º e 5º Escalões de Embarque, que constituíam o Depósito de Pessoal da FEB, partiram do Brasil praticamente sem instrução, chegando à Itália respectivamente a 7 de dezembro de 1944 e a 22 de fevereiro de 1945, um dia depois da vitória de Monte Castelo.

Transformado, sem tardança, em um magnífico Centro de Instrução e Recompletamento, graças à visão e desvelo do General Truscott, então comandante do V Exército Americano, incumbiu-se o Depósito de Pessoal, dedicadamente, do adestramento dos homens em cada arma e em cada especialidade. Estacionado no interior de um belo e extenso pinheiral nas proximidades do povoado de Staffoli, o Depósito de Pessoal da FEB chamava a atenção pela ordem e higiene de suas instalações, pela grandiosidade de seus numerosos stands de tiro e aspecto magnífico das pistas especiais de infiltração.

Foi preocupação constante dos chefes americanos e do chefe brasileiro a instrução dos oficiais, quer na parte tática quer nas diversas especialidades, pois para esse fim estava o Teatro de Operações da Itália muito bem aparelhado com as suas escolas e centros de instrução. No decorrer do inverno de 1944/1945, o comando brasileiro intensificou o treinamento de oficiais, fazendo realizar um ativo plano de instrução. No período de estabilização que precedeu as operações de fevereiro de 1945, cuidamos de apurar a capacidade ofensiva dos comandas em todos os escalões.

No QG Avançado de Porretta Terme, neste entrementes, realizou-se, com o propósito de aprimorar a nossa técnica ofensiva, um esmerado e vantajoso curso de conferências, proferidas por oficiais americanas e brasileiros. Este curso, tratando somente de assuntos vinculados ao combate ofensivo, mereceu a honra de contar com a colaboração, como conferencistas, dos Generais Truscott e Crittenberger, comandantes do V Exército e IV Corpo, respectivamente.

Ressalta nítida e dolorosa, em face do exposto nas páginas precedentes, a conclusão de que a 1ª DIE não fora bafejada pela sorte, no que concerne ao seu adestramento militar, nos campos de instrução da Itália e Brasil. Se em nossa Pátria as dificuldades de organização, a seleção física, a escassez de material e fatores outros impediram que alcançássemos os objetivos finais da instrução, na Itália o retardamento da entrega do material e as necessidades prementes da frente de combate forçaram a nossa DI a entrar em linha num estado de adestramento reconhecidamente incompleto. Tornaram-na tais circunstâncias a única Divisão que não foi submetida ao inalterável ciclo de instrução das Grandes Unidades norte-americanas. Completamos a nossa instrução em estreito contacto com o inimigo, senhor de vantagens topo-táticas indiscutíveis. Amargamos, nessa aprendizagem, alguns reveses decerto inevitáveis. Enfrentamos, como remate ao nosso adestramento, um inverno bem rude nas gélidas escarpas dos Apepinos. Nessa conjuntura, a que fomos levados pela força das acontecimentos, forjou-se a capacidade combativa da tropa brasileira e aprimorou-se o sentimento de responsabilidade dos chefes em todos os escalões da hierarquia. Nos erros cometidos e nos reveses sofridos, fomos buscar os ensinamentos que nos levaram a tão sensacionais e espetaculares vitórias.
 
Fonte Vídeo; www.youtube.com.br
 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário