Olá Pessoal,
O Resumo sobre a 2° Guerra Mundial acabou, mas resolvi postar uma série de matérias sobre o desempenho do Brasil na SGM, começando pelo Exército, depois Marinha e Aviação.
Para quem acha que o papel do Brasil na SGM foi pequeno, poderá se surpreender com a ação brasileira no teatro de guerra europeu. Em termos de números, foram 25.445 soldados enviados ao front sendo 443 baixas e cerca de 3000 feridos, 445 missões executadas e aproximadamente 1010 toneladas de bombas lançadas.
Se você quer saber um pouco mais sobre o Brasil na SGM, postei abaixo alguns livros e o filme "Senta a pua!" de 1999. Já li todos e são ótimos, o livro "Irmãos de armas: um pelotão da FEB na SDM é mais do que recomendado e item obrigatório de leitura para quem quer conhecer mais á repeito.
Irmãos de armas: um pelotão da FEB na II Guerra Mundial, de José Gonçalves e César Campiani Maximiano. São Paulo: Códex, 2005. (O livro é um relato de caráter semi-autobiográfico. A co-autoria é de César Campiani Maximiano, doutor em História pela Universidade de São Paulo. Sem ser piegas, o livro é comovente em vários momentos.)
O Brasil na mira de Hitler: a história do afundamento de navios brasileiros pelos nazistas, de Roberto Sander. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. (Sem perder o rigor da pesquisa, a narrativa de Sander é tão envolvente quanto um bom romance de espionagem.)
National Geographic Brasil: Edição Especial, nº 63-A, São Paulo: Abril, 2005. (Edição especial lançada por ocasião dos sessenta anos do término da Segunda Guerra. Traz uma coletânea dos melhores artigos sobre o assunto já publicados pela revista. Há três reportagens sobre o Brasil.)
Senta a pua! - Direção: Erik de Castro. Brasil, 1999. (Documentário que conta a história dos pilotos da FAB durante a Segunda Guerra Mundial.)
Bruno Mingrone
Atividades preparatórias da Força Expedicionária Brasileira (FEB)
A 28 de janeiro de 1942, durante a Terceira Conferência dos Chanceleres Americanos no Rio de Janeiro, anunciava o Governo do Brasil o rompimento de suas relações com a Alemanha, o Japão e a Itália, por efeito de seus compromissos internacionais em face da agressão a Pearl Harbour (7 de dezembro de 1941).Em conseqüência desse ato, entrou o Brasil em grande atividade militar para a segurança e a defesa de suas costas, quando, ao mesmo tempo, cedia aos Estados Unidos o uso, durante a conflagração, de suas bases militares - Belém, Natal, etc.
Tradicionalmente favorável aos Aliados, vinha a opinião pública se inflamando diante dos ataques praticados por submarinos alemães e italianos contra os nossos navios mercantes e nessas manifestações patrióticas inspirou-se o Presidente Vargas para declarar guerra à Alemanha e à Itália, em data de 22 de agosto de 1942, com a desaprovação, talvez, de alguns auxiliares diretos do Governo.
A nossa atitude, decorrente da declaração de guerra, poderia prudentemente limitar-se à defesa das costas, à concessão das bases militares, durante o conflito em curso, e à colaboração com as forças militares norte-americanas no patrulhamento do Atlântico Sul, porque, com a atitude mais avançada, iríamos incorrer, sem dúvida, numa aventura de grandes proporções.
O Exército não possuía nem conhecia o material de guerra moderno, as suas organizações táticas eram arcaicas, os seus serviços, deficientes. Ressentia-se o seu moral, e se ressentiu durante toda a guerra, da falta de imprescindível preparação psicológica.
Apesar do nosso precário poder militar, decide o chefe do Governo, iluminado por uma intuição, até certo ponto feliz, que as armas brasileiras participem do conflito de além-mar, como mais um tributo de solidariedade à causa aliada. Passou então a vontade do Presidente Vargas, a prevalecer nos novos rumos de nossa política exterior. Tal prevalecimento, todavia, não se pôde afirmar com desejável plenitude, porque permaneceram em seus postos da administração pública alguns auxiliares imediatos do chefe do Governo, sabidamente contrários à participação efetiva do Brasil numa guerra ao lado das Nações Unidas.
Desde agosto de 1943 já vinham sendo traçadas as normas, em caráter sigiloso, para a organização da Força Expedicionária Brasileira (FEB), destinada a cooperar, além-mar, tom os Exércitos Aliados na missão de destruir o inimigo comum. No dia 9 daquele mês e ano, consultado, no mesmo caráter, o General Mascarenhas de Moraes, comandante da 2ª Região Militar (São Paulo), por telegrama do Ministro da Guerra, se aceitaria o comando de uma das Divisões de Infantaria da Força Expedicionária, respondeu afirmativamente, de modo preciso e claro.
Dias depois, tem ciência por comunicação telefônica do Ministro da Guerra, de que fora escolhido pelo Chefe do Governo, entre os generais consultados, para comandar a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE), devendo a sua designação ser feita oportunamente. A 23 de novembro de 1943 é finalmente criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB), com três Divisões de Infantaria e elementos orgânicos de Corpo de Exército, inclusive Aviação e Órgãos de Comando e de Serviços.
No mês anterior já se tinha dado começo à organização da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE), sob a orientação do General Mascarenhas de Moraes, para esse fim designado em 7 de outubro de 1943. Ponderosas e vitais foram as razões que conduziram as nossas autoridades militares a estruturar a Grande Unidade expedicionária e seus elementos constitutivos segundo os meios, processos e tipos de organização, vigentes no Exército dos Estados Unidos e já consagrados pela experiência da guerra em pleno desenvolvimento.
A tropa orgânica da Divisão de Infantaria Expedicionária (DIE), tipo americano, compreendia: 3 Regimentos de Infantaria, 3 Grupos de Artilharia 105, 1 Grupo de Artilharia 155, 1 Batalhão de Engenharia, 1 Esquadrão de Reconhecimento, 1 Batalhão de Saúde, 1 Companhia de QG, 1 Companhia de Intendência, 1 Companhia de Transmissões, 1 Companhia de Manutenção, 1 Pelotão de Polícia, 1 Banda de Música, 1 Destacamento de Saúde e 1 Pelotão de Sepultamento.
Na organização da 1ª DIE foram aproveitadas, em grande parte, unidades já existentes, transformadas algumas e criadas outras. Numerosos e difíceis foram os obstáculos à tarefa de se organizar uma forrça expedicionária de acordo com os moldes norte-americanos. Há longos anos o Exército Brasileiro vinha sendo instruído por uma operosa missão militar francesa. Sua organização, seus regulamentos e seus processos de combate eram baseados na chamada "escola francesa" . De repente, quase da noite para o dia, dentro da antiga moldagem, e no quadro da doutrina gaulesa, surgia a tarefa de constituir uma Divisão de Infantaria, com a organização norte-americana. E, além disso, instruí-la e adestrá-la segundo os métodos, processos e meios norte-americanos. Somente quem nunca se viu a braços com problemas análogos pode ignorar as dificuldades, as incompreensões e choques daí decorrentes. A nova organização exigia a criação de órgãos absolutamente novos e a revisão quase revolucionária de princípios, há muito firmados em nosso meio militar. O problema consistiu em fazer sair, de um maquinismo montado à francesa, uma Força Expedicionária que funcionasse à americana.
A 1ª DIE, contou em seu seio, desde o início, cerca de três dezenas de oficiais das armas e serviços, com certa experiência dos processos de combate e instrução adotados nos Estados Unidos, pois tinham realizado proveitos estágios em Unidades e Campos de treinamento daquele país amigo. Alguns chefes nossos, entre os quais avultam os generais Euclydes Zenóbio da Costa, Oswaldo Cordeiros de Farias e Falconiere da Cunha, estagiaram também na América do Norte, onde tiveram oportunidade de colher magníficos ensinamentos. Além de contar com este contingente para as tarefas iniciais de organização e adestramento, ainda era de inestimável valia para a 1ª DIE a visita do seu chefe divisionário às frentes de combate do provável teatro de atuação das forças brasileiras. Obra de realismo militar, essa visita produzia a vantagem de estabelecer proveitosas relações pessoais de comando, antes mesmo da chegada da tropa brasileira ao teatro da guerra.
Nesta ordem de idéias e objetivos, o General Mascarenhas De Moraes, em data de 6 de dezembro de 1943, acompanhado de diversos oficiais, entre os quais um "Grupo de Observadores", partiu para o Norte da África e Itália. Neste último país, visitou demoradamente as frentes de combate e esteve em contacto com os mais abalizados chefes militares aliados desse Teatro de Operações.
Somente a 28 de dezembro de 1943 é que foi publicada a designação o General Mascarenhas De Moraes para comandar a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE), em confirmação da escolha feita pessoalmente pelo Chefe do Governo, em agosto último. Retornando ao Brasil em janeiro de 1944, o General Mascarenhas De Moraes fez sentir a necessidade de tornar mais efetiva a sua ação de comando, pois urgia concentrar a tropa expedicionária na Capital Federal, subordinando-a diretamente ao seu chefe. Na segunda quinzena de março de 1944 atingia ao seu término a concentração da 1ª DIE na Capital Federal, com alguns elementos no Estado do Rio de Janeiro, ficando assim essa Grande Unidade expedicionária debaixo do comando de seu chefe próprio.
Com a adoção da organização americana, na qual a motorização intensiva constitui a nota dominante, e em presença de um material de guerra, ate então desconhecido nos meios militares brasileiros, era natural, senão lógico, a incorporação ao nosso patrimônio profissional de preceitos regulamentares e processos de instrução bem diferentes daqueles com os quais nos habituáramos nos exercícios dos tempos de paz.
A preparação técnica e tática da 1ª DIE começou a ser encarada pelo seu comandante com a mais séria preocupação de vencer os obstáculos que surgiam por toda a parte. Apesar da atividade dos chefes expedicionários, nos diferentes escalões da hierarquia militar, a escassez de armamento e de outros materiais de guerra prejudicou a obtenção de um nível alto de adestramento, particularmente na instrução tática. Estava previsto, entretanto, um período final de adestramento, que seria realizado no próprio teatro da guerra, o que possibilitaria melhor lucro na instrução tática das unidades. Amiudavam-se as visitas, inspeções e verificações, realizadas pelos chefes expedicionários de todos os escalões.
A 31 de março de 1944, desfilava pelas avenidas do Rio de Janeiro a Infantaria Expedicionária, sob o comando do General Zenóbio Costa, dando uma excelente prova de seu apuro físico e de sua disciplina. A 20 de maio de 1944 realizou-se, no Campo de Instrução de Gericino (Rio de Janeiro), com a presença do Presidente da República a esplêndida demonstração de tiro real, levada a efeito por toda a Artilharia Expedicionária, sob o comando do General Oswaldo Cordeiros de Faria. No dia 24 desse mesmo mês, em homenagem ao feito de Tuiuti, desfila pela Avenida Rio Branco a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE), sob o comando do General Mascarenhas de Moraes, recebendo do Chefe do Governo e do povo as mais entusiásticas aclamações e as mais tocantes despedidas.